Pesquisa indica que desemprego e inflação representam impacto brutal no orçamento de famílias menos favorecidas
Virmondes Cruvinel
A crise econômica causada pela pandemia de Covid-19 é gravíssima e atingiu todos os países. Como disse a chanceler alemã, Angela Merkel, este talvez seja o maior desafio da humanidade desde a 2ª Guerra Mundial. Todas as nações enfrentam dificuldades e estão se esforçando para superá-las.
No entanto, é preciso entender que, mesmo generalizada, essa crise produziu impactos diferentes para os múltiplos estratos da sociedade. Hoje, é possível dizer que ela aprofundou ainda mais o fosso entre ricos e pobres, especialmente em países já marcados pela desigualdade, como é o caso do Brasil.
Em junho deste ano, um estudo da Tendências Consultoria projetou para 2021 uma queda de cerca de 15% na renda das famílias de classes D e E como resultado da pandemia. Uma queda muito maior do que o projetado para a classe C (-1,8%) e em movimento oposto ao que deve ocorrer com as classes mais favorecidas: crescimento de 3,8% para a classe A e de 2,5% para a B.
O desemprego é o maior vilão desse processo, aponta a consultoria. No enorme contingente de 14,4 milhões de desempregados no Brasil (dados do IBGE em agosto), é possível distinguir uma maioria formada por indivíduos menos escolarizados e que detinham os menores salários. São eles também que ficam mais tempo sem voltar ao mercado de trabalho.
O impacto do desemprego é brutal para essas famílias, ainda mais que neste ano o auxílio emergencial da União foi reduzido ou suspenso para muitas delas. Para piorar a situação, essa queda na renda vem acompanhada de um intenso processo inflacionário. Em diversas pesquisas de opinião, o aumento no custo de vida surge como maior preocupação para pelo menos dois terços da população.
Neste cenáro de crise, com efeitos terríveis para os mais pobres, as políticas públicas de retomada econômica são cruciais para evitar que um enorme contingente de brasileiros seja entregue à miséria. Por isso, é preciso aplaudir a sensibilidade do Governo de Goiás, que foi um dos primeiros Estados a criar uma secretaria específica para o tema.
As ações da Secretaria da Retomada têm o nosso apoio frequente na Assembleia Legislativa. Como parlamentar, tenho levado ao governador Ronaldo Caiado e ao secretário César Augusto impressões e sugestões que considero importantes neste momento difícil. Uma dessas impressões é a que expresso neste breve texto: os mais necessitados devem ser prioridade para a Pasta.
Nessas conversas, faço questão de destacar a importância da chamada microeconomia. Por meio de parceiros estratégicos, como o Sebrae, é preciso investir no micro e pequeno empreendedorismo. São várias frentes possíveis, desde a dona de casa que passa, por exemplo, a fabricar bolos e quitutes para reforçar o orçamento doméstico até a utilização de desempregados no desenvolvimento da chamada agricultura urbana ou periurbana.
São muitas as possibilidades. É importante que a crise seja transformada, o mais rápido possível, em momento de oportunidades. Já vimos acontecer em outros países e aqui mesmo no Brasil, em outros períodos históricos. Vamos dar as mãos e trabalhar para sair desse buraco.
Virmondes Cruvinel é professor, procurador do Estado licenciado e deputado estadual