Perderemos uma geração?

Empregabilidade juvenil costuma ser ignorada, mas é uma das questões mais graves da crise

Virmondes Cruvinel

O desemprego no país chegou à inacreditável marca de dois dígitos, deixando mais de 10% dos trabalhadores fora do mercado. É a maior taxa registrada pelo IBGE nos últimos quatro anos e, em números absolutos, representa cerca de 11 milhões de brasileiros em busca de uma vaga de trabalho.

Os economistas alertam para um dado mais grave: a taxa de desocupação entre jovens de 18 a 24 anos é ainda maior e pode estar em 20%. Os dados dos primeiros meses de 2016 ainda não foram consolidados por faixa etária, mas a taxa de 2015 foi de 16,8% indicando forte tendência de elevação.

Essa situação pode desencadear um dos efeitos mais nefastos de uma crise econômica: como não encontram vagas nas áreas em que começaram seus estudos, esses jovens desempregados acabam desperdiçando a melhor época de suas vidas sem aprimorar seus conhecimentos profissionais na prática.

Quando a economia crescer novamente e as vagas voltarem a surgir, é provável que o mercado prestigie quem já tenha experiência ou opte por treinar os mais jovens, que acabaram de concluir seus cursos profissionalizantes. É o que ocorre tradicionalmente.

Aqueles jovens adultos, que passarem esses anos sem a chance de treinamento, podem constituir uma espécie de geração perdida. Não encontram vagas no segmento que escolheram para se formar e terminam ocupando atividades com menor remuneração. Sem contar a turma que já está procurando oportunidades em outros países.

Apesar da sua importância, a questão da empregabilidade juvenil muitas vezes é ignorada pelos governos e até pela sociedade – uma vez que, naturalmente, a renda dos chefes de família costuma ocupar o centro das atenções e receber os maiores esforços. Mas o que poderia ser feito para mitigar esse problema?

Um passo primordial é fazer com que o sistema educacional esteja atento à crise e ofereça respostas às demandas do mercado de trabalho – o atual e o potencial, quando as turbinas da economia forem religadas. Infelizmente, isso não é o que vemos em vários lugares do Brasil, onde o pragmatismo foi substituído por um debate ideológico inócuo.

A educação deve avivar o senso crítico quanto à política, mas é preciso que os jovens brasileiros também invistam no desenvolvimento das chamadas competências transversais: saber analisar e resolver problemas, usando as qualidades exigidas nos tempos atuais, como criatividade, adaptabilidade, flexibilidade, planejamento e organização. Hoje, a maioria está sozinha nessa empreitada.

Virmondes Cruvinel é procurador do Estado licenciado e líder do PPS na Assembleia Legislativa

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