Goiânia quer um abraço

Em meio ao trauma da pandemia, prefeitável falar em “choque de gestão” é balela ou falta de sensibilidade

Virmondes Cruvinel

Ainda enfrentando dados alarmantes da covid-19, o país tenta retomar seus trilhos dentro da chamada nova normalidade. Um desses trilhos é o do processo eleitoral, que definirá novos prefeitos e vereadores, com o primeiro turno adiado para 15 de novembro. E mesmo com a pandemia, é preocupante ver que o discurso de algumas forças políticas continua o mesmo, usando velhos jargões de eleições passadas.

Recentemente, um dos pré-candidatos afirmou que Goiânia precisa de um “choque de gestão”. Tomara que seja apenas uma escolha errada de palavras. Estamos no meio da maior crise sanitária da história da nossa cidade. Um processo traumático para toda a sociedade. Em vez de “choques” ou outros arroubos de discurso, Goiânia e seus moradores precisam é de um abraço e de cuidados do poder público.

A cidade tem até agora quase 28 mil casos confirmados de covid-19 e cerca de 700 famílias perderam entes queridos para a doença. Nos hospitais, foram milhares de internações, com UTIs lotadas de pacientes em situação gravíssima. Esses são os dados oficiais e os especialistas sempre alertam que a subnotificação pode ser elevada, já que o número de assintomáticos nesta doença é relativamente alto.

Na economia, os indicadores, que já foram piores nos meses iniciais da pandemia (março, abril e maio), trazem um relativo alento. Em junho, pela primeira vez desde que o novo coronavírus nos impactou, os dados do Caged revelam que houve um pequeno, mas positivo, saldo nas contratações com carteira assinada em Goiás. Mas esse foi o primeiro passo para sair do buraco, pois o saldo acumulado no ano ainda é negativo.

Além disso, como o Caged é um retrato do conjunto de pessoas que procuraram emprego em determinado mês, é preciso que essa variação positiva se confirme nos próximos períodos da amostra. Segundo alguns economistas, há uma possibilidade razoável de que esteja ocorrendo o fenômeno descrito como “desalento” – quando menos pessoas deixam de procurar emprego pois já tentaram várias vezes ou já sabem que não há vagas – uma vez que os demais sinais da economia não são tão alentadores.

Então, diante desse quadro alarmante da crise, o que o goianiense quer não é um choque. O que todos aguardam, mesmo que tardia, é uma sinalização clara da prefeitura de que consegue enfrentar a crise e, ao mesmo tempo, ajudar a produzir um ambiente propício à recuperação de tudo o que perdemos com essa pandemia. Infelizmente, não vemos essa sinalização.

Não se viu qualquer movimentação para estruturar adequadamente as unidades municipais de saúde. Ao contrário, o que se viu foi atraso nos repasses de verbas federais, falta de equipamentos de segurança, escassez de medicamentos e até o fechamento de um CAIS para reforma em plena pandemia. Também não há notícia de qualquer movimento para garantir que Goiânia se candidate a ser uma das primeiras cidades a receber as vacinas contra o vírus.

Na educação, um desastre humanitário. Logo no início da pandemia, a cidade viu, estarrecida, a demissão de milhares professores temporários e o fechamento dos Cmeis, sem qualquer medida de atenção social às famílias que dependem deles para a própria sobrevivência. É preciso lembrar que, além de oferecer ensino e merenda, essas unidades são a única opção de milhares de pais que precisaram continuar trabalhando sem ter com quem deixar suas crianças.

Na área econômica, a capital ainda espera um efetivo plano de recuperação, que leve em conta o chamado “novo normal”. Cidades inteligentes em todo o planeta já estão absorvendo lições para encontrar e aproveitar oportunidades que são inerentes a momentos agudos de crise. Mas em Goiânia, a prefeitura não tem a menor noção do ambiente que precisa ser criado para favorecer as novas formas de empreendedorismo.

Estruturar a saúde, humanizar a educação e modernizar o ambiente de negócios em Goiânia são exemplos de medidas de cuidado com o ser humano. Não se trata, como foi dito, de dar choques, mas de abraçar as necessidades da capital e apontar o caminho para um futuro de mais esperança, inclusão social e prosperidade.

Virmondes Cruvinel é deputado estadual e pré-candidato a prefeito de Goiânia pelo Cidadania

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