É preciso entender causas da epidemia de mortalidade juvenil e propor ações imediatas
Virmondes Cruvinel
A 3ª Conferência Estadual da Juventude acontece no final deste mês, na cidade de Goianésia, tendo como tema “as várias formas de mudar Goiás e o Brasil”. Mudar, sem dúvida, é um dos verbos prediletos dos jovens e o que não falta são coisas a serem mudadas em nosso Estado e no nosso país.
Mas a prioridade desse evento deveria ser a discussão sobre a guerra cruel enfrentada diariamente pelos jovens brasileiros. Ter entre 15 e 29 anos no Brasil é viver sob grave perigo, de acordo com as estatísticas de homicídios e de mortes no trânsito.
Segundo o Mapa da Violência 2015, divulgado anualmente pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), vivemos uma epidemia de mortes juvenis. Enquanto a taxa de homicídio de não-jovens é de 12,4 por 100 mil habitantes, o índice envolvendo jovens é quase o quádruplo: 47,6 homicídios por grupo de 100 mil pessoas.
Em Goiás, os números são ainda mais alarmantes. Entre os não-jovens (abaixo de 15 e acima de 29 anos), registra-se uma taxa de 17,5 óbitos por 100 mil goianos. Para o universo juvenil, a fatalidade também é multiplicada por quatro: 69,3 mortos por 100 mil habitantes no Estado.
O trânsito é outro ponto de encontro dos brasileiros com a violência, sobretudo para os mais jovens. Segundo o Mapa da Violência, foram 60.752 mortes causadas por acidentes de trânsito em 2012. Desse número terrível de vítimas, nada menos que 41% eram jovens entre 18 e 34 anos de idade – equivalente a duas tragédias como a da boate Kiss por semana.
Uma das observações do estudo da Flacso é a de que a violência contra os jovens se tornou corriqueira a ponto desses dados praticamente não chocarem mais a sociedade brasileira. Ou seja, para o senso comum, parece ser normal, quase um rito de passagem, que a juventude perca vidas de forma violenta incessantemente no Brasil. Sem nos indignar, seguimos como se nenhuma medida precisasse ser tomada.
Eventos como o da Conferência da Juventude podem ajudar a romper essa inércia. É preciso estudar a fundo as causas da mortalidade juvenil, que é comparável à das piores guerras no mundo. A matéria envolve diversos campos de atuação, que passam pelo aparato de segurança pública e pela fiscalização de trânsito. Mas, dado esse número absurdo de mortes, é possível intuir que nenhuma solução eficaz e duradoura prescindirá de um enorme esforço na área educacional.
É claro que outros temas são urgentes para a juventude. O IBGE acaba de revelar que a crise econômica aprofundou o velho problema da empregabilidade entre os jovens – a taxa de desemprego para os mais novos (15%) pulou para o dobro da média geral. Pesquisas recentes (Estudo Guess) também apontam que a juventude brasileira é uma das mais interessadas em empreendedorismo, mas que não encontra no sistema de educação do país qualquer respaldo para desenvolver seus talentos. Há espaço para todas essas discussões, mas a prioridade para o jovem no Brasil continua sendo manter-se vivo.
Virmondes Cruvinel é procurador do Estado licenciado e líder do PSD na Assembleia Legislativa