Alvorada pós-impeachment

Esperança é de que o eleitor não admita mais práticas que não sejam austeras e transparentes

Virmondes Cruvinel

O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ainda monopolizará o debate político por muito tempo, seja qual for o resultado da votação de sua admissibilidade pelo Senado – esperada para o dia 11 de maio. Enquanto isso, a maioria dos brasileiros (que não tem qualquer vínculo partidário) agoniza na torcida de que um sistema político melhor emane dessa crise. Mas como isso poderá acontecer?

Virou lugar comum dizer que as crises abrem oportunidades para grandes avanços, mas é preciso muita atenção para não perder essas chances. O primeiro passo é justamente identificar qual é o real problema, qual é a origem das atuais mazelas. Nesta derrocada petista, não há dúvida de que o maior pecado, entre tantos outros, foi a exacerbada falta de transparência e de sinceridade do governo.

É importante explicar essa afirmação para evitar o risco de simplificações. Sim, houve crime de responsabilidade (pedaladas fiscais em um volume assustador), combinado com um desatino administrativo que levou o país à maior crise econômica desde 1930. Ok, trata-se do maior caso de corrupção da história (Petrolão), somado a vários outros casos escabrosos, cujas investigações estão em andamento.

Certo, são questões que justificam facilmente o impedimento, mas o que realmente baqueou Dilma foi a perda da popularidade por não ter jogado limpo com a população. Ela e sua equipe enganaram o eleitor em 2014, quando inventaram uma realidade fictícia na propaganda oficial e eleitoral. Disseram que o problema era a “crise econômica internacional” e que ela seria superada sem ajustes radicais nas políticas do governo.

O véu caiu em 2015, com um déficit fiscal de R$ 115 bilhões e Dilma mostrando-se incapaz de administrar o buraco que havia provocado. Assim, o país chega neste primeiro trimestre de 2016 com 11,1 milhões de desempregados. A impopularidade do governo (na casa de 68%, segundo o Datafolha) reflete o déficit de governabilidade e também de credibilidade. Nada do que Dilma diz em seus discursos parece sobreviver à realidade da burocracia estatal e do jogo pesado do Congresso.

Desse negro período histórico resta a esperança de que o eleitor não vai mais admitir práticas políticas que não sejam austeras e transparentes. Como norte, é preciso observar exemplos como os da Noruega e da Suíça, onde a população sabe exatamente como o suado dinheiro dos impostos é aplicado e a democracia é exercida cada vez mais diretamente pelos cidadãos. A internet está aí para isso também.

Virmondes Cruvinel é procurador do Estado licenciado e líder do PPS na Assembleia Legislativa

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